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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Respondendo à tempestade

Certa vez, passei por algumas dificuldades na minha vida. Não era um daqueles problemas comuns, como receber baixo salário ou ter vivido uma infância humilde. Digo comuns porque, como brasileiros, sabemos bem o que é isso. Foi uma daquelas fases da vida em que todas as áreas da nossa existência são atingidas por uma crise. Quando isso me aconteceu, a primeira coisa que percebi foi que eu não queria sofrer.


Bem, esta não é uma constatação das mais inteligentes. Afinal, todo mundo sabe que ninguém quer sofrer. Porém, quando a pimenta cai nos nossos olhos, daí nós entendemos, de verdade, o quanto o sofrimento é desagradável. Então, surge a inevitável indagação: Mas porque temos que sofrer? Olha, esta é uma pergunta que procura ser respondida desde que a humanidade habita sobre a Terra. Não me proponho a respondê-la. Mas, como um eventual sofredor que sou, assim como os meus leitores o são, podemos nos solidarizar nestas linhas e tentar obter, não uma resposta, mas uma força, dessas forças que os amigos dão uns aos outros.

Se o sofrimento bateu em sua porta, lembre-se de que todos sofrem, cada um à sua maneira. Isso me recorda as palavras do poeta Francisco Otaviano:

“Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça;
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem —
Só passou pela vida, não viveu.”

Também é importante lembrar que a dor pode ser útil para alguma coisa. O escritor norte-americano Eckhart Tolle disse em um de seus livros: “Uma das muitas suposições errôneas do ego, um dos seus mais iludidos pensamentos é ‘eu não deveria ter que sofrer’”. Segundo ele, o sofrimento tem um propósito nobre de nos fazer evoluir e reduzir nosso egoísmo. Mas verdade é que algumas pessoas são derrotadas pelos seus problemas. Onde está a evolução, nesses casos?

Muitas vezes, é uma questão de como essas pessoas respondem aos desafios que surgem. Um provérbio bíblico adverte: “Se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena”. Qual é a sua reação diante do sofrimento? Será que você diz “eu não deveria estar sofrendo” e espera que as coisas se resolvam sozinhas? Qual reposta você vai oferecer às circunstâncias? Do filósofo grego Epiteto: “Nós não podemos escolher nossas circunstâncias externas, mas podemos sempre escolher como respondemos a elas”.


Se eu tiver que passar pelo dia da angústia, não quero ser frouxo. Sei que as coisas são bem mais difíceis na prática, mas, a melhor resposta para aquilo que não sabemos responder é a coragem. Alguém até já disse que, sem coragem, todas as outras virtudes perdem o seu valor. Saiba que ninguém é importante demais a ponto de não ter que sofrer. E ninguém se torna importante sem ter sofrido. Afinal, que fama teriam os grandes navegadores se não fossem as grandes tempestades?

(Texto originalmente publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia).

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