Páginas

Mostrando postagens com marcador cooperação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cooperação. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Silêncio que cura

Muitas vezes nos deparamos com pessoas que nos contam seus problemas e não sabemos o que dizer. Cada um é que sabe a dor do próprio coração, por isso, temos dificuldade para alcançar uma noção real do sofrimento de outra pessoa. Buscar palavras, nessa hora, não é fácil, mas não encontrá-las pode ser até melhor.

Já aconteceu de algum amigo desabafar aos seus ouvidos sobre uma dificuldade e, no final, ele te perguntar: “Você entende o que eu estou passando?” Quando isso acontece comigo e eu respondo que sim, me dá uma sensação de não estar dizendo a verdade. “Sim, eu entendo”, digo a mim mesmo no pensamento, “mas não compreendo”. Como dizer algo útil desse jeito?

Uma das tarefas mais difíceis ao se aconselhar uma pessoa é colocar-se no lugar dela. Podemos até entender o quanto é duro passar por tudo aquilo, mas, compreender... Compreender é conter em si, é trazer para dentro do próprio coração a dor do outro. É chorar junto. É entrar na chuva para se molhar. É arriscar-se a sofrer, também.

Colocar-se no lugar do outro é, também, abrir mão do desejo de contar com detalhes como foi a última viagem que você fez, apenas para ficar em silêncio e ouvir. Ouvir até aquela torrente de palavras carregadas de emoção terminar. Frequentemente, é não ter nem a chance de dar aquele superconselho que, na nossa cabeça, seria a solução para os problemas do nosso amigo. O amigo só precisa ser ouvido e, depois, vai embora. Você pode nem perceber nas o começo da solução do problema alheio se dá no momento em que paramos para ouvir.


Quantas vezes nós mesmos nos sentimos revigorados quando alguém nos deu atenção por um bom tempo. Retribuir esse favor, ainda que não seja à mesma pessoa que nos deu ouvidos, pode contribuir com a construção de uma sociedade mais saudável, mais leve. Talvez sejamos até incapazes de compreender plenamente a dor do outro, mas podemos fazer-lhe saber que entendemos o quanto nos importamos. Podemos não encontrar palavras, mas desconfio que um pouco de silêncio e ouvidos atentos fizeram mais pela humanidade do que muitas descobertas da medicina. 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Valorizando pessoas


“O mundo dá voltas”. Com este ditado costuma-se tratar de um fato que ocorre o tempo todo: a mudança. O mundo, as situações e as pessoas mudam, e, muitas vezes, quem um dia se encontrava numa posição elevada, outro dia já precisa da ajuda de alguém para levantar-se. Um sábio dizia: “não há nada de novo debaixo do sol”, e tinha razão. Tudo muda, e nisso não há novidade.


O problema é quando insistimos em pensar que as coisas sempre mudarão para pior, principalmente no que diz respeito a seres humanos. Quantas vezes convivemos com pessoas cujo histórico de mau comportamento nos faz pensar que nunca vão melhorar? Algumas são afetadas pelo alcoolismo, outras por uma rebeldia adolescente; outras, ainda, por uma preguiça patológica. Algumas, até, por uma inabilidade com as finanças que lhes levam sempre à falência. Nossa tendência natural é procurar um culpado: elas mesmas – dizemos –, porque são irresponsáveis e sempre jogam fora as oportunidades. Mas será que não existe nada melhor a fazer do que simplesmente atribuir-lhes a culpa por seus fracassos?

Houve um homem que perdeu cinco eleições e duas disputas para cargos políticos. Um perdedor – alguns diriam. Este mesmo homem faliu duas vezes e teve um colapso nervoso. Finalmente, depois de muita persistência, chegou a ser presidente dos Estados Unidos. Podemos perceber, com isso, que as coisas podem mudar para melhor na vida de alguém, e nós devemos ser os primeiros a acreditar na possibilidade de recuperação dos outros. Esse homem, Abraham Lincoln, percebeu, em sua vida, as voltas que o mundo dá, e o quanto algumas pessoas se mostraram importantes em sua recuperação até a vitória.

O que quero dizer é que devemos valorizar as pessoas quando ninguém mais lhes dá valor. Sei que não é uma comparação perfeita, mas eu poderia dizer que as pessoas são semelhantes a ações de uma empresa. Segundo um dos maiores investidores do mundo, Warren Buffet, o momento certo de comprar as ações de uma organização é quando ninguém mais as quer. Assim, você deposita confiança naquela empresa e compra suas ações, esperançoso de que ela venha a recuperar-se financeiramente. Anos depois, quando as ações se valorizarem, renderão bastante lucro, mas somente para quem arriscou dar-lhes valor quando ninguém queira fazê-lo.

Todos nós conhecemos pessoas que são desprezadas pela sociedade – estão sempre à nossa volta. Talvez elas precisem de uma palavra de incentivo, uma ajuda ou, quem sabe, apenas de um abraço. Portanto, aproveite o momento em que você tem condições de ajudar alguém. O mundo dá voltas, e pode ser que daqui a algum tempo seja você quem precise de um sorriso e um pouquinho de atenção. E, nessa hora, quem você ajudou no passado pode estar num lugar mais alto e com o braço estendido para erguer aquele que um dia lhe valorizou, como ninguém mais o fez.


Texto publicado no Diário do Sudoeste da Bahia

domingo, 29 de setembro de 2013

Não somos nada sem os outros


 

Certo dia, aproveitei um feriado para ir à roça. Fui com minha namorada e nos divertimos muito fazendo trilhas e subindo morros. Depois de termos caminhado bastante, já estávamos um pouco cansados. Foi quando eu vi o meu pai, que tem 62 anos, carregando um feixe de folhas de coqueiro que ele usaria para construir uma cabana. Então, não sei se por generosidade ou por uma vontade de provar que era forte, me ofereci para carregar aquele feixe de mais de 2m de comprimento. Imaginei que seria fácil – afinal, eram só folhas. Mas foi aí que começou a minha via crucis

A missão era a seguinte: carregar aquele molho de talos de folhas de coqueiro por uma ladeira de meio quilômetro, até chegar à casa mais próxima. Acompanhado de minha namorada, vi naquilo uma oportunidade de mostrar-lhe o quanto ela tinha sorte de ter um homem forte como eu ao seu lado.  Postura de Schwarzenegger, feixe nas costas, lá vou eu passo a passo sob o sol de meio-dia. Não demorou, porém, para eu descobrir que o limite da minha força era bem aquém do que imaginava.

Alguns metros depois do início daquela caminhada, o peso das folhas foi ficando cada vez maior. Estranhamente, o sol parecia mais forte. A ladeira parecia não acabar mais (e olha que eu não tinha percorrido nem um quinto do percurso!). Isso me fez pensar nas pessoas à minha volta que enfrentam problemas que aos meus olhos parecem simples, mas na verdade não o são. Pequenos pesos, quando carregados por muito tempo, tendem a pesar muito mais. E agora eu já não aguentava dar mais nem um passo... Será que eu deveria abrir mão do meu ego e pedir ajuda?  

Apesar de relutar bastante, tive que pedir a minha namorada que me ajudasse. E aquela história de mostrar a ela a minha capacidade extraordinária de carregar folhas de coqueiro? Bem, tive que admitir que não era nenhum He-Man. Eu era, e ainda sou, alguém cujas forças têm um limite e, se eu não tiver a humildade de admitir isso e pedir ajuda, talvez nunca alcance os meus objetivos. Todos nós precisamos dos outros para alcançar o melhor de nós mesmos.

Às vezes, observo pessoas que parecem não admitir isso. Algumas delas, quando num restaurante, tratam os garçons com arrogância, não sabendo que, sem eles, o alimento não chegaria à mesa. Sem os feirantes, as verduras e carnes não seriam vendidas, e sem os lavradores e pecuaristas, os alimentos não chegariam às feiras. Não somos nada sem os outros. E, naquela ladeira, pude compreender isso melhor.

Com a ajuda da minha futura esposa, pude levar o feixe de folhas até a casa. Foi difícil até para nós dois. Chegamos lá esgotados, mas conseguimos. Não somos nada sem a ajuda dos outros. Portanto, desejo profundamente que meus leitores possam lembrar-se disso, seja numa ladeira, num restaurante ou em um lugar qualquer.

Texto Originalmente publicado no Diário do Sudoeste da Bahia.