
Já aconteceu de algum amigo desabafar aos
seus ouvidos sobre uma dificuldade e, no final, ele te perguntar: “Você entende
o que eu estou passando?” Quando isso acontece comigo e eu respondo que sim, me
dá uma sensação de não estar dizendo a verdade. “Sim, eu entendo”, digo a mim
mesmo no pensamento, “mas não compreendo”. Como dizer algo útil desse jeito?
Uma das tarefas mais difíceis ao se aconselhar
uma pessoa é colocar-se no lugar dela. Podemos até entender o quanto é duro passar
por tudo aquilo, mas, compreender... Compreender é conter em si, é trazer para
dentro do próprio coração a dor do outro. É chorar junto. É entrar na chuva
para se molhar. É arriscar-se a sofrer, também.
Colocar-se no lugar do outro é, também, abrir
mão do desejo de contar com detalhes como foi a última viagem que você fez,
apenas para ficar em silêncio e ouvir. Ouvir até aquela torrente de palavras
carregadas de emoção terminar. Frequentemente, é não ter nem a chance de dar
aquele superconselho que, na nossa cabeça, seria a solução para os problemas do
nosso amigo. O amigo só precisa ser ouvido e, depois, vai embora. Você pode nem
perceber nas o começo da solução do problema alheio se dá no momento em que paramos
para ouvir.
Quantas vezes nós mesmos nos sentimos
revigorados quando alguém nos deu atenção por um bom tempo. Retribuir esse
favor, ainda que não seja à mesma pessoa que nos deu ouvidos, pode contribuir
com a construção de uma sociedade mais saudável, mais leve. Talvez sejamos até incapazes
de compreender plenamente a dor do outro, mas podemos fazer-lhe saber que entendemos
o quanto nos importamos. Podemos não encontrar palavras, mas desconfio que um
pouco de silêncio e ouvidos atentos fizeram mais pela humanidade do que muitas
descobertas da medicina.