Páginas

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Silêncio que cura

Muitas vezes nos deparamos com pessoas que nos contam seus problemas e não sabemos o que dizer. Cada um é que sabe a dor do próprio coração, por isso, temos dificuldade para alcançar uma noção real do sofrimento de outra pessoa. Buscar palavras, nessa hora, não é fácil, mas não encontrá-las pode ser até melhor.

Já aconteceu de algum amigo desabafar aos seus ouvidos sobre uma dificuldade e, no final, ele te perguntar: “Você entende o que eu estou passando?” Quando isso acontece comigo e eu respondo que sim, me dá uma sensação de não estar dizendo a verdade. “Sim, eu entendo”, digo a mim mesmo no pensamento, “mas não compreendo”. Como dizer algo útil desse jeito?

Uma das tarefas mais difíceis ao se aconselhar uma pessoa é colocar-se no lugar dela. Podemos até entender o quanto é duro passar por tudo aquilo, mas, compreender... Compreender é conter em si, é trazer para dentro do próprio coração a dor do outro. É chorar junto. É entrar na chuva para se molhar. É arriscar-se a sofrer, também.

Colocar-se no lugar do outro é, também, abrir mão do desejo de contar com detalhes como foi a última viagem que você fez, apenas para ficar em silêncio e ouvir. Ouvir até aquela torrente de palavras carregadas de emoção terminar. Frequentemente, é não ter nem a chance de dar aquele superconselho que, na nossa cabeça, seria a solução para os problemas do nosso amigo. O amigo só precisa ser ouvido e, depois, vai embora. Você pode nem perceber nas o começo da solução do problema alheio se dá no momento em que paramos para ouvir.


Quantas vezes nós mesmos nos sentimos revigorados quando alguém nos deu atenção por um bom tempo. Retribuir esse favor, ainda que não seja à mesma pessoa que nos deu ouvidos, pode contribuir com a construção de uma sociedade mais saudável, mais leve. Talvez sejamos até incapazes de compreender plenamente a dor do outro, mas podemos fazer-lhe saber que entendemos o quanto nos importamos. Podemos não encontrar palavras, mas desconfio que um pouco de silêncio e ouvidos atentos fizeram mais pela humanidade do que muitas descobertas da medicina. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário