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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Força oculta

No livro mais lido e esquadrinhado do mundo há a história de um jovem frágil que encontrou força num dos momentos mais difíceis de sua vida. Ele não tinha sido uma pessoa muito honesta, por isso seu irmão estava irado com ele e pretendia matá-lo. Devido a essa ameaça, Jacó (que, anos depois, teve a felicidade de ter seu nome trocado por um mais bonito) viu-se obrigado a fazer uma longa viagem para ir morar longe de seu irmão e continuar vivo.  

Acontece que, em sua época, não havia Google Mapas nem GPS, para que ele soubesse o caminho. Seus pais lhe deram apenas uma ideia de como se chegar àquela terra distante, e era preciso atravessar desertos perigosos e vales onde habitavam animais selvagens. Se ele pudesse, escolheria não fazer aquela jornada, mas não havia escolha. Era ficar, e ser morto pelo seu irmão, Esaú. Acredito que não foi fácil para Jacó caminhar dias e dias sem ter, muitas vezes, a certeza de estar seguindo na direção certa.

Jacó não tinha um endereço anotado, para onde ele devesse ir. A principal informação que tinha era o nome de um tio que ele não conhecia: Labão (fico imaginando como a mãe dele não conseguiu pensar num nome melhor...). Em todas as vilas pelas quais passava, nosso jovem aventureiro perguntava se por ali morava a família de Labão, porém sempre ouvia um “não, nunca ouvi falar de alguém com esse nome” – e risadinhas. E passavam-se os dias, e Jacó já estava desesperado e sem forças.

Ocorreu que ele caminhava por uma campina, e viu três rebanhos de ovelhas em volta de um poço, sobre o qual havia sido colocada uma pedra. Então Jacó perguntou aos pastores daqueles rebanhos: “Por que vocês não dão de beber às ovelhas? Ainda é pleno dia!” Eles responderam: “Acontece que temos que esperar que todos os outros pastores tragam seus rebanhos. Assim, com a força de vários homens, poderemos remover a pedra que cobre o poço”. Aquilo fazia sentido, mas ele logo pensou que não poderia ajudá-los, porque já estava fraco e cansado demais, e já começava a duvidar se realmente sobreviveria àquela longa viagem.

Estando quase sem fé, e só para não perder o costume, Jacó aproveitou para perguntar aos pastores se eles conheciam Labão. “Sim, conhecemos!” – disseram eles. “E a filha dele, Raquel, também é pastora de ovelhas, e está vindo ali com seu rebanho. Naquele instante, uma forte emoção tomou conta do coração de Jacó. Finalmente encontrava um parente seu, sangue do seu sangue! Não pensou duas vezes e, voltando-se para a pesada pedra sobre o poço, empurrou-a sozinho, tal foi a força que lhe sobreveio naquele momento. Tendo dado de beber ao rebanho de Raquel, foi encontrar seu tio e iniciar uma nova fase em sua vida.

Muitas vezes, em nossa história pessoal, passamos por momentos que mais parecem uma longa e desesperadora viagem, cujo fim não conseguimos enxergar. Nessas horas as nossas forças, que já eram poucas, parecem sumir. Mas ainda há uma força que habita dentro de você, e é tão poderosa quanto as águas que escapam pela fenda de uma represa. Ela está sempre à sua disposição. Contudo, é preciso estar atento aos sinais que ela dá, e eles podem estar num sonho ou no topo de uma escada. Mas a força está lá, e pode ter certeza que ela será poderosa o suficiente para te levar até o fim da jornada.   

Texto publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia


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